A Graduação em Campo III
Seminários de Antropologia Urbana das Ciências Sociais7, 8 e 9 de dezembro de 2004.
 
Comissão  Organizadora:Alexandre Barbosa Pereira
Ana Luiza Mendes Borges
Bruna Mantese de Souza
Camila Iwasaki 
Carolina Abreu
Clara de Assunção Azevedo
Daniela do Amaral Alfonsi 
Fernanda  Noronha
Márcio José de Macedo
Renata de Toledo Rodovalho 

Resumos

Os Pregadores da Praça da Sé
(Amanda Albuquerque Gross; Rodrigo Salvador Lachi)Este trabalho surgiu a partir de uma curiosidade sobre as motivações, interesses e estratégias dos pregadores evangélicos do centro da cidade. Restringimos nossas observações ao espaço da praça da Sé por acreditarmos que dessa maneira daríamos conta do objeto assim recortado. Além disso, a Praça da Sé é um importante palco histórico e abriga a grande catedral católica, ícone da religião a qual estes protestantes se opõem. Ao contrário do que imaginávamos, a atividade da pregação não é caótica ou espontânea, os pregadores estão organizados em grupos com horário, local e forma de pregação bem definidos, o que lhes dá legitimidade perante os demais atores que ocupam a praça. 

O movimento Hare Krishna:  Um estudo antropológico sobre o estilo de vida Hare Krishna em São Paulo
(Alexandre Viola; Beatriz Tonglet de Vasconcelos; Lia Bernardes; Rebecca V. de Luna Guidi; Tiago Ferreira) 

Este trabalho é um estudo do estilo de vida Hare Krishna em São Paulo. Tendo em vista que a filosofia desta religião prega a renúncia ao mundo material, buscamos verificar em que medida esta prática se aproxima ou se distancia de outros estilos de vida presentes no espaço urbano, já que neste, o apelo material é muito intenso. A aparente contradição foi diluída através da investigação dos estilos de vida dos adeptos Hare Krishna, ou seja, da forma pela qual este grupo percebe e vivencia o mundo e, em conseqüência, se comporta e faz escolhas, já que se pôde perceber que o movimento não só transita pela cidade, como também dialoga e nasce neste contexto. Investigamos como os praticantes desta religião – que possui preceitos tão rígidos quanto ao consumo – vivem, transitam, se reproduzem, e se alimentam do próprio local de suas críticas; como a religião molda o viver na cidade e vice-versa. 

Circuito Gospel na Metrópole
(Ariana Rumstain)

Este trabalho propõe discutir a formação de um circuito de sociabilidade cujo elemento estruturador é a opção religiosa: o segmento gospel. Já não é de hoje que os evangélicos vêm mudando seu comportamento, a idéia de um «crente» que se considera apartado das «coisas do mundo» – sobriedade no vestir, condenação dos prazeres do mundo e adoção de uma série de regras comportamentais – passou por transformações que atualmente se intensificam com o movimento gospel. Na atualidade, destaca-se como um dos movimentos paradigmáticos das mudanças dos campos católico e evangélico por ter gerado novos padrões de «gosto», estilos de vida, uso do tempo livre e sexualidade dos religiosos.

A experiência dos acampamentos rururbanos do MST : «Vai pensando que é só brincar de barraquinha!»
(Ana Carolina Gonçalves; Barbara Batista Barboza de Souza; Laura Tereza de Sá e Benevides Inoue; Liliane Batista Barboza de Souza)

Este trabalho resguarda tanto um interesse nosso com relação a esta nova experiência do MST – que é a de formação de acampamentos cada vez mais próximos da metrópole paulistana e com pessoas provenientes da cidade – quanto uma preocupação em problematizar as análises macro e micro, discutindo suas relações, suas possibilidades de diálogo e a tradicional separação dentro da pesquisa em ciências sociais. Nossa tentativa de aproximação deste processo de construção de sociabilidade que reúne pessoas de diferentes lugares da cidade para trabalharem no campo por meio de um movimento social que é o MST (!) – não pôde deixar de discutir as relações entre a experiência particular e as questões mais amplas e estruturais que estão o tempo todo impondo suas determinações ao processo.

Comunidade do Carmo: a construção de uma identidade étnica
(Carlos E. N. Roesler; Fábio G. Almeida; Raíssa F.R. Gambi)
Esse trabalho –  que consiste em uma breve etnografia formulada dentro de um período relativamente curto de trabalho de campo – foi realizado  por meio da pesquisa participante, de entrevistas com pessoas conhecedoras dentro da comunidade estudada e do registro do evento apontado pelos moradores como o mais importante, a saber : a festa da Santa Padroeira Nossa Senhora do Carmo. Inserida no debate antropológico sobre a construção da identidade, a pesquisa procurou verificar como os conflitos referentes ao problema da etnicidade manifestam-se no quilombo mais próximo à cidade de São Paulo. O Bairro do Carmo, localizado na periferia do município de São Roque, atribui sua origem à um grupo de escravos que se organizaram em torno da imagem de uma Santa encontrada na região. De lá para cá muitas coisas mudaram, incluindo seu reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares como uma comunidade remanescente de quilombo, no ano de 2000. No entanto, tal reconhecimento não encerra as controvérsias e as tensões dentro desta comunidade, mas coloca novos elementos a serem manipulados nos processos de construção da identidade do Carmo.

Do isolamento à interação: o teatro e a cidade como atores sociais

(Adriana Rezende Faria Taets; Camilo Otelac; Clarissa Inserra Bernini; Denis Oshima Roberto)

O Teatro Municipal é visto muitas vezes como uma imponente construção que abriga espetáculos voltados apenas para uma elite econômica e intelectual. No entanto, um olhar atento para o Teatro e suas relações com a cidade nos mostra o mesmo como um importante ator urbano, que interage com a cidade e demais atores urbanos. A pesquisa de campo realizada no primeiro semestre de 2004 revela os diferentes olhares sobre o Teatro, os vários grupos sócio-econômicos que interagem com ele e, mais ainda, os vários pontos de onde é possível vê-lo. Dessa forma, a pesquisa contou com uma discussão sobre o espaço público e o espaço privado, revelando que o Teatro não se encontra preso a uma dessas categorias especificamente, sendo, às vezes casa, às vezes rua.

Bastidores da Rua Santa Ifigênia: comércio de eletro-eletrônicos nos arredores
(Aline Galafassi; Ramon Leonardi)

Nos arredores da Avenida Santa Ifigênia, em São Paulo, aglutinam-se diversas lojas, galerias e vendedores de rua, que ali ofertam eletro-eletrônicos e artigos de informática, caracterizando assim uma mancha de comércio específico no centro da cidade. Sob este cenário caótico, onde transeuntes apressados se esgueiram em meio ao sujo e angustiante labirinto de camelôs e galerias, estando à mercê de um furacão de estímulos mentais – atinados mais sensivelmente pelas incessantes ofertas atabalhoadas de vendedores de rua – se encobre uma trama de relações; das quais podem ser percebidas regras sociais, padrões em estratégias de venda, tipos e categorias. Através do presente trabalho tentou-se, com o exercício de campo, desvelar essa trama e apresentar, apoiando-se na teoria da performance de Goffman, as diferentes categorias de vendedores que lá se encerram. 

Lumière, Cine Iguatemi, Kinoplex: uma análise antropológica de três cinemas do Itaim

(Erica Janecek Mello; Enrico Spaggiari)

Esta pesquisa é uma análise antropológica de três cinemas geograficamente próximos no bairro do Itaim, porém estruturalmente diferentes: o Cine Lumière – um antigo cinema de bairro; o Cine Iguatemi – um cinema de shopping; e o Kinoplex – um «multiplex de rua». Foram observadas as diferentes características desses três cinemas, assim como as diversas formas de sociabilidade nesses espaços de lazer da cidade de São Paulo, para se entender a razão que leva o espectador a escolher um dos três. São cinemas que nasceram em épocas diferentes no processo de formação de um circuito cinematográfico paulistano e hoje desfrutam de uma curiosa contemporaneidade, que se deve, em parte também, à algumas peculiaridades do bairro do Itaim, espaço onde um cinema de bairro ainda consegue sobreviver frente ao crescente número de grandes redes de cinema na cidade.

Apropriação de um espaço em comum: a Praça Benedito Calixto

(Marta Pereira Militão da Silva; Nayara Magri Romero; Vaanessa Vilas Boas Gatti)

O trabalho sobre a Feira da Praça Benedito Calixto foi nossa primeira inserção em campo e um pequeno exercício etnográfico requerido pelo curso Práticas Culturais em Contexto Urbano. Foi um exercício de distanciamento do olhar, já que éramos freqüentadoras da feira e pela primeira vez a olhávamos de maneira crítica e atenta. Detivemo-nos na apropriação do espaço público da praça aos sábados, momento em que a feira é realizada e o espaço apropriado por diferentes atores: uma Associação, vendedores, camelôs e consumidores. Tentamos compreender, então, como coexistiam os diferentes interesses na ocupação daquele espaço, seus conflitos e contradições.